A cadeia de valor do conhecimento, apresentada anteriormente (Big Data: os computadores são de pouca importância...), é um excelente modelo que relaciona práticas de gestão da informação e conhecimento à estratégia da organização. Todavia, para colocar esse modelo em prática é fundamental entender o contexto da empresa e as condições para sua aplicação.
Desenvolvemos no Sebrae Paraná um plano de implantação de inteligência, documentado em um termo de referência (um detalhado plano com mais de 100 páginas), que relaciona a cadeia de valor do conhecimento a 4 eixos transversais, em especial àqueles elementos relacionados à produção de conhecimento. Antes de explicar esses 4 eixos, é importante definir o escopo do projeto de analytics, declarando especialmente o que ele não pretende tratar diretamente.
Ao longo de sua existência, as organizações constroem suas características particulares de processos, sistemas, recursos humanos, políticas, valores, estratégias e traços culturais. De uma forma geral, esse conjunto de características peculiares definem como as decisões são tomadas e convertidas em ações. Tais componentes configuram a forma como a organização interage com suas partes interessadas (acionistas, conselheiros, clientes, fornecedores, colaboradores, etc.) e como a empresa se propõe a gerar valor para as mesmas. Em outras palavras, tais características definem o modelo de gestão dessa organização, algo sobre o qual tratarei futuramente. Ao construirmos um paralelo com a cadeia de valor do conhecimento, entendemos que o modelo de gestão relaciona-se ao conjunto de instrumentos mais diretamente relacionados ao topo do diagrama. Por outro lado, o escopo de um projeto de analytics deve se focar nos elementos que compõe a base do modelo, ou seja, a gestão de dados, informações, conhecimento e inteligência. Isto porque tal projeto tem como objetivo o aumento da qualidade e capacidade da empresa de trabalhar com informações e incorporá-las da forma mais adequada aos processos decisórios.
Como já havia argumentado anteriormente, ter computadores e capacidade de processamento de dados é uma condição necessária mas não suficiente a um plano que vise melhorar a qualidade dos processos decisórios, a partir de dados e inteligência. Em outras palavras, tecnologia é apenas um dos eixos que devem ser tratados em um plano de analytics. Os 4 eixos ou aspectos transversais aos elementos na base da cadeia de valor do conhecimento são:
1. Aspectos Tecnológicos: aborda as principais ferramentas e tecnologias para o processamento de dados e informações e que devem facilitar e potencializar a capacidade analítica da organização;
2. Aspectos de Recursos Humanos: trata da temática de competências, isto é, deve auxiliar a definir o perfil dos colaboradores a serem contratados e/ou quais as competências a organização deve buscar desenvolver para suprir suas necessidades, em especial as competências de análise;
3. Aspectos de Processos de Negócios: trata dos procedimentos e rotinas adotadas com vistas à criação de valor; possui uma visão fundamentalmente “administrativa”, ao menos no que tange à ordem e à forma com que as atividades devem ser executadas;
4. Aspectos de Cultura Organizacional: abrange valores e as mudanças comportamentais desejadas para a empresa, isto envolve não somente as rotinas e processos aos quais as pessoas estão submetidas, mas também os hábitos e valores subjacentes aos processos.

Chamo a atenção para este último elemento, muito sensível e muitas vezes omitido em planos que envolvem mudanças organizacionais, a cultura. Qualquer plano que implique em mudanças significativas deve reconhecer quais atitudes e comportamentos são valorizados ou execrados na organização no presente e quais atitudes e comportamentos devem passar a ser valorizados. Se um dos objetivos for gerar um ambiente mais favorável ao compartilhamento de informações e a sua utilização para a tomada de decisões na empresa, comportamentos de segregação de conhecimentos críticos (muitas vezes fundamentadas na perigosa crença de que “conhecimento é poder”) devem ser rigorosamente repelidos. De igual forma, decisões relevantes tomadas com base em meras impressões ou no “achismo”, sem análises baseadas em dados e fatos também deveriam ser desprezadas pela alta gerência, criando um constrangimento e reforçando traços de comportamento desejados até a base hierárquica da organização.
Essa divisão em 4 eixos visa solucionar de antemão possíveis problemas de execução, atribuindo responsabilidades e definindo claramente as ações necessárias. No diagrama abaixo relacionam-se tais ações agrupadas por 4 elementos da cadeia de valor do conhecimento (dados, informação, conhecimento e inteligência) e os 4 eixos transversais, sendo que muitas iniciativas atuam aos mesmo tempo em mais de um eixo.

Como em qualquer plano, a sequencia de atividades importa e são muitas vezes interdependentes. Por isso, precisam ser implantadas ao longo do tempo. Cientes de que os melhores planos necessitarão de adaptações e ajustes ao longo de sua execução, um cronograma é útil para definição dos pontos de entrada ou ainda, para haver clareza sobre o que não deve ser realizado inicialmente, já que muitas ações carecem de um nível apropriado de maturidade pela organização.
A compreensão dessas etapas tem o potencial de desenvolver uma cultura de decisões baseadas em dados, adequando a empresa aos possíveis desafios e demandas que estão por vir.
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ResponderExcluirExcelente meu caro. Muito claro e objetivo
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