Hoje (9/11) é um dia histórico para o mundo. A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, a superpotência mundial, eleva a incerteza e o temor de um retrocesso na agenda global do desenvolvimento sustentável.
Antes de prosseguir, cabem algumas considerações. Este é um post diferente. As ideias aqui presentes foram reunidas ao longo de muito tempo e tratam de questões que há muito me angustiam. Compartilho documentários longos, os quais recomendo àqueles que desejam refletir sobre o mundo que deixaremos a nossos filhos e netos. Assistir aos vídeos exigirá tempo e um pouco paciência, mas estou certo que valerá a pena.
Decidi publicar esse post justamente hoje, em um dia com o potencial de marcar a aceleração de uma trajetória rumo ao colapso. Trump e seu discurso eleitoral representam valores e conceitos diametralmente opostos aos caminhos que poderiam levar a espécie humana ao desenvolvimento sustentável, e não quero falar apenas de questões ambientais. Ao pregar a intolerância a imigrantes estrangeiros e árabes, Trump vai de encontro ao objetivo de desenvolvimento sustentável número 10 (ODS 10), que trata por exemplo de “empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião e condição econômica”. Ao tratar com discriminação as mulheres Trump depõe contra o ODS 5 que tem como uma de suas metas “acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte”. Clique aqui para ver um post anterior sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Antes de prosseguir, cabem algumas considerações. Este é um post diferente. As ideias aqui presentes foram reunidas ao longo de muito tempo e tratam de questões que há muito me angustiam. Compartilho documentários longos, os quais recomendo àqueles que desejam refletir sobre o mundo que deixaremos a nossos filhos e netos. Assistir aos vídeos exigirá tempo e um pouco paciência, mas estou certo que valerá a pena.
Com relação especificamente aos aspectos do meio ambiente, ao longo de sua campanha Donald Trump não somente negligenciou o problema das mudanças climáticas, como também afirmou se tratar um “tema de ficção” e “criado por chineses”. Um discurso como este, na cabeça do líder à frente do cargo mais importante do planeta, poderá significar a aniquilação das chances minguadas que ainda temos de reverter as consequências mais perversas das mudanças climáticas? O resultado pode vir a ser um caminho que nos levará a incapacidade do planeta Terra em manter as condições de suporte à vida. A palavra que me vem à mente neste caso é “colapso”.
Um pesquisador chamado Jared Diamond nos traz lições das sociedades humanas que desaparecerem, ou seja, que entraram em colapso, como os Maias e os Rapa Nui da Ilha de Páscoa. Sua constatação mais importante talvez seja que as sociedades entraram em colapso pouco depois de atingirem o seu pico em termos de pujança e poder. Nesses casos, não houve desaceleração. A queda ocorreu logo após o apogeu. Jared apresenta um modelo com 5 elementos que explica as razões para esse colapso. A primeira razão é que as populações dessas sociedades inadvertidamente acabaram por destruir todos os recursos dos quais suas vidas dependiam. Os habitantes da ilha de Páscoa, que devastaram todas as árvores existentes, deixaram como lembrança de sua passagem apenas estátuas gigantes de pedra. Outra razão relaciona-se a fatores políticos, sociais e culturais que impedem a sociedade de perceber e solucionar esses problemas ambientas. Em especial, tais sociedades se depararam com conflitos de interesses: interesses de curto prazo das elites tomadoras de decisão e os interesses de longo prazo da sociedade como um todo. Isso é especialmente fatal quando essas elites são capazes de se isolarem das consequências de suas decisões. Ou seja, quando para tais grupos os problemas lhes parecem “problemas dos outros”, ou quando as mudanças não são abruptas mas ocorrem paulatinamente. Tal qual um sapo colocado em uma panela de agua fria e que morre cozido a medida em que a água aquece aos poucos e ele não percebe a mudança de temperatura.
Pensamentos sobre as mudanças climáticas vêm ganhando tons cada vez mais alarmistas. Em 1972 um estudo intitulado “Os Limites do Crescimento” e financiado pelo Clube de Roma já colocava em atenção a sustentabilidade do modelo econômico. Em 1987, a ONU encomendou um estudo chamado "Nosso Futuro Comum", também chamado relatório Brundtland (em referência à chefe da comissão do estudo), que listou diversos pontos de atenção na promoção de desenvolvimento sustentável, incluindo a atenção aos recursos naturais e a limitação do crescimento populacional. A preocupação com o crescimento da população é ainda mais antiga e remonta ao economista Thomas Malthus, precursor de teorias de crescimento econômico. Em 1798 assim profetizou Malthus em seu “Ensaio sobre a população”:
Colapso?
Pensamentos sobre as mudanças climáticas vêm ganhando tons cada vez mais alarmistas. Em 1972 um estudo intitulado “Os Limites do Crescimento” e financiado pelo Clube de Roma já colocava em atenção a sustentabilidade do modelo econômico. Em 1987, a ONU encomendou um estudo chamado "Nosso Futuro Comum", também chamado relatório Brundtland (em referência à chefe da comissão do estudo), que listou diversos pontos de atenção na promoção de desenvolvimento sustentável, incluindo a atenção aos recursos naturais e a limitação do crescimento populacional. A preocupação com o crescimento da população é ainda mais antiga e remonta ao economista Thomas Malthus, precursor de teorias de crescimento econômico. Em 1798 assim profetizou Malthus em seu “Ensaio sobre a população”:
O poder de crescimento da população é tão superior ao poder do solo para produzir a subsistência para o homem que a morte prematura, de uma maneira ou de outra, ataca a espécie humana. Os vícios da humanidade são ativos e hábeis agentes do despovoamento. Eles são os antecessores do grande exército da destruição e freqüentemente eles próprios executam o pavoroso trabalho. Entretanto, quando eles fracassam nessa guerra de extermínio, períodos de enfermidade, epidemias, peste e praga entram em ação com uma terrível disposição e eliminam milhares e dezenas de milhares de homens. Quando o sucesso fosse ainda incompleto: a fome gigantesca e inevitável espreita na retaguarda e com um possante sopro varre a população e o alimento do mundo (...) Então isso deve ser reconhecido por um estudioso atento da história da humanidade, que em qualquer época e em qualquer Estado em que o homem viveu ou vive hoje: o crescimeno da população é limitado necessariamente pelos meios de subsistência. (Capítulo 7)
O discurso alarmista sobre a sustentabilidade do planeta e de nossa espécie ganhou novos tons com o documentário “Uma verdade inconveniente” de Al Gore em 2006 e que teve um importante papel de sensibilizar a opinião pública internacional sobre as mudanças climáticas. Apenas três anos depois, em 2009, o fotógrafo e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand lançou um documentário que é uma obra-prima visual sobre nosso planeta intitulada "Home" (veja abaixo).
O documentário coloca grandes dúvidas sobre a sustentabilidade de uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis e questiona se passamos ou não do ponto de retorno, em que ainda seria possível reverter os mais severos dos impactos ambientais. Além das belas e também alarmantes imagens, duas expressões me marcaram: “cada vez mais rápido...”, para falar dos incentivos do modelo econômico para produzir mais e mais rápido; e “é tarde demais para sermos pessimistas”, ou seja, traz um tom positivo ao afirmar que muitas pessoas já estão em ação, procurando mudar as bases do sistema. No título deste post deixo essa expressão, não como uma afirmação, mas como uma indagação.
Lidando com a perspectiva da morte
Essas perspectivas alarmistas sobre as mudanças climáticas, me trouxeram à lembrança o modelo de Kübler-Ross (em referência à psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross) dos estágios da perspectiva da morte. As primeiras etapas envolvem a negação e a raiva. Discursos como o de Donald Trump e, infelizmente de muitas pessoas aparentemente defensoras do modelo energético vigente, parecem se encontrar nessa fase inicial. Em seguida vem a fase de grande pessimismo ou depressão. A meu ver o discurso de Leonardo DiCaprio encontra-se nessa fase. Em seguida vem as fases de barganha e aceitação. Em minha opinião, quanto antes as pessoas e a sociedade, de modo geral, passarem às fases de barganha e aceitação, maiores as chances de mudança e de reduzirmos os impactos mais perversos da mudança climática ao nosso planeta.
As lições dos Pinguins Imperadores
Na região de clima mais hostil de nosso planeta, onde sopram fortes ventos a temperaturas inferiores a -40ºC, podemos tomar uma lição de como uma espécie pode se sustentar. Essa lição de cooperação e altruísmo vem dos pinguins imperadores da Antártica. O documentário inovador e premiado com o Oscar de 2006, intitulado “A Marcha dos Pinguins” (La Marche de l'empereur), exibe a vida desses pinguins e seu esforço para assegurar a sobrevivência da espécie. Percebo que, se cada pinguim buscasse o que é melhor para si a todo o momento, essa espécie simplesmente não existiria. Durante o momento mais escuro e frio do inverno antártico, ante ao vento congelante que mataria qualquer animal em poucos minutos, os pinguins imperadores machos se aglomeram em círculos para conservar calor. Os membros do grupo, no lado mais externo do círculo em contato com o vento, ficam apenas alguns minutos e são substituídos por outros, retornando ao centro do círculo. Os machos alternaram com as fêmeas que naquele momento estão no oceano em busca de alimento para a prole. Se os pinguins não cooperassem, assumindo o ônus de ficar temporariamente em face direta com o vento congelante, simplesmente todos morreriam e a espécie como um todo não existiria. É o altruísmo e não o egoísmo, ou seja, a busca pelo interesse individual, o comportamento vencedor e sustentável neste caso. Que lições de sustentabilidade podemos tomar com os pinguins?
Mais perguntas do que respostas
Quero concluir levantando mais perguntas do que respostas. Estará Thomas Malthus certo em sua profecia? O progresso técnico e a capacidade de inventividade humana serão capazes de reverter as tendências deletérias vigentes? Será possível frear o ritmo de expansão do uso de recursos naturais? Será possível mudar o estilo de vida e de consumo de tantos? Há um poderoso modelo econômico que estimula todos (cidadãos e empresas) a consumirem, crescerem e produzirem mais e cada vez mais rápido. Executivos de grandes empresas são impelidos a darem resultados de crescimento a cada trimestre para se manterem em seus cargos. Serão tais incentivos de curto prazo compatíveis com os interesses de longo prazo de sobrevivência das sociedades? Penso que a cooperação será fundamental para a evolução da espécie e para a sustentabilidade do planeta. Finalmente deixo em aberto uma última pergunta: é tarde para sermos pessimistas?
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ResponderExcluirMais um alerta vindo de grandes pensadores da atualidade. Dessa vez do físico Stephen Hawking. Interpreto que para ele o "fim do mundo" não será fruto de um evento cósmico, mas de um evento eminentemente humano e econômico. Para ele: "Se as máquinas produzem tudo o que necessitamos, o resultado dependerá de como as coisas são distribuídas. Todos podem desfrutar de uma vida prazerosa se a riqueza produzida pelas máquinas for compartilhada, ou então a maioria das pessoas podem acabar miseravelmente pobres se os donos das máquinas se opuserem à distribuição de riqueza. Até o momento, a tendência parece ser a segunda opção, com a tecnologia levando a uma desigualdade cada vez maior". Link para um artigo: https://goo.gl/HPrsTs
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