Infraestrutura de transporte: muita penúria “da porteira para fora”

É senso comum dizer que o Brasil sofre com uma infraestrutura precária. Com razão. Em muitas atividades econômicas realizadas no país, as empresas se apropriam muito bem de tecnologias e processos eficientes que lhes asseguram boa produtividade. A agricultura desenvolvida por grandes cooperativas é um exemplo disso. Elas associam alta tecnologia no aperfeiçoamento de cultivares, planejamento de safra, colheitadeiras guiadas por GPS, etc. Porém, da “porteira para fora” a competitividade muitas vezes se esvai.


Há diversos elementos que influenciam na competitividade de produtos e serviços, sendo a dimensão custo talvez a mais relevante. Via de regra, quanto maior o custo de um produto até o consumidor ou usuário, menos competitivo o mesmo será. Os níveis de qualidade e eficiência da infraestrutura disponíveis guardam uma estreita relação com os custos que as empresas e os cidadãos são obrigados a enfrentar. 

Sim, isso vale para commodities...

Como já afirmei anteriormente, competitividade é um fenômeno multidimensional ("Competitividade é um jogo disputado em diversas arenas"). Inovações em produtos e serviços resultam em diferenciações que permitem aos empreendedores auferir margens superiores de lucro. Porém, vamos desprezar o efeito da diferenciação, tomando o caso de uma commodity. Um grão de soja produzido nas fazendas de Iowa (Estados Unidos) não é radicalmente diferente do grão produzido no Mato Grosso. Em razão de fatores produtivos eficientes o custo da tonelada de soja produzida no Mato Grosso é consideravelmente inferior ao custo de produção em Iowa (US$ 416 vs US$ 449). Porém a competitividade é perdida no custo de transporte (US$ 71 = US$ 127 - US$ 56), resultando em um preço elevado no destino final como a China por exemplo (Brasil: US$ 596 vs EUA: US$ 557). Custo mais elevado para o cliente final significa perda de competitividade. 



… vale não somente para commodities

Logística ineficiente não é um problema apenas para mercados de commodities. Em uma economia do conhecimento a ineficiência da infraestrutura disponível também impacta o desenvolvimento da produção. Tomemos o caso da região sudoeste do Paraná. Atualmente não operam voos comerciais regulares na região. Para ir a outras partes do país os cidadãos eram obrigados a se deslocar por horas nas estradas até aeroportos distantes em Cascavel, Chapecó ou mesmo Curitiba. Essas horas de deslocamento implicam em custos, inclusive custos de oportunidade. Sem contar os riscos de acidentes nas estradas. 

Como argumentei em outros posts (vide aqui), o conhecimento produtivo é um fator cada vez mais relevante no modelo econômico atual. Atrair cérebros (pessoas competentes) é uma estratégia relevante em um plano de desenvolvimento econômico. Pessoas competentes produzem inovações, novos conceitos e processos que acabam extrapolando e influenciando outras pessoas. Com esse processo de aprendizado, o conhecimento produtivo se amplia e se converte em produtos e serviços mais complexos e em mais renda. Porém, sem um aeroporto próximo maior é o tempo e o custo de deslocamento de profissionais a partir de grandes centros. Ou seja, sem infraestrutura são menores as condições de atrair e reter bons cérebros na região.

Infelizmente no Brasil o fluxo atual é oposto do ideal. Nosso país está perdendo seus cérebros, (brasileiros competentes e empreendedores) para outros países. Um grande número de famílias tem preferido a vida em outros países, enquanto nossas fronteiras estão praticamente fechadas a bons profissionais estrangeiros que queiram trabalhar aqui. É preciso recuperar a confiança e promover a competitividade do Brasil, da porteira para dentro e também da porteira para fora.

Tenho encontrado um mote de resiliência na seguinte frase: “Eu não quero morar em outro país, eu quero morar em outro Brasil

PELT 2035: Um bom exemplo de plano para a infraestrutra de transporte

A sociedade civil do Paraná por meio do Forum Futuro 10, grupo do qual tive o privilégio de participar, produziu um plano elegendo as obras prioritárias de infraestrutura no Estado. Foram feitas diversas oficinas nas regiões do Paraná para identificar os gargalos e as oportunidades para impulsionar o setor produtivo do Estado, considerando os diversos modais. O resultado disso é o "Plano Estadual de Logística e Transporte do Paraná (PELT) 2035" lançado em 2016 e apresentado no documento abaixo:


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Sobre Fabio Hideki Ono

Um economista em busca de aprendizado e que acredita que boas práticas de gestão podem efetivamente levar ao desenvolvimento sustentável.

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